terça-feira, 9 de agosto de 2011

GRAMADO 2011
Riscado, de Gustavo Pizzi, retrata cotidiano sem artificialismos

A mostra competitiva do 39º Festival de Cinema de Gramado começou sexta à noite (5/8) com a exibição do longa Riscado, primeira trabalho do diretor Gustavo Pizzi em ficção. O filme de baixo orçamento (R$ 800 mil) surpreende pela boa qualidade técnica obtida mesmo contando com recursos limitados. Foi filmado numa mescla de digital e 16mm com resultado estético que não fica atrás de produções bem mais abastadas realizadas no país.

A sessão de Riscado logo após a exibição fora de competição de O Palhaço, de Selton Mello, revelou ao público presente um diálogo inevitável entre as duas produções. No longa de Selton, o personagem central, o palhaço Pangaré, parte numa busca de autoconhecimento depois de se questionar se ser palhaço é o que realmente quer fazer da vida. No filme de Pizzi, a personagem central sabe o que quer, mas enfrenta problemas para conseguir sobreviver em um mundo que parece confrontar sua escolha profissional.

Ambos os personagens são bons em suas áreas, “entendem do riscado”, expressão da qual Pizzi retirou o título de seu filme, mas seguem caminhos diferentes. “O que eu sei fazer de melhor? Como eu posso fazer isso e me sustentar? E se não conseguir conciliar os dois e ter de desprender oito horas de meu dia fazendo algo que não gosto para viver? A maioria das pessoas já passou por esses quetionamentos”, disse Pizzi à imprensa.

A trama de Riscado é centrada na personagem Bianca Ventura (Karine Teles), que almeja ser atriz e trabalha em uma empresa que divulga eventos para sobreviver. Imita personagens de cinema como Betty Page, Carmen Miranda e Marlyn Monroe e consegue conciliar o trabalho com um pequeno grupo de teatro sem recursos. Ela acredita que sua sorte chegou quando é selecionada para participar de um filme com coprodução francesa.

Lendo o parágrafo anterior, tem-se a impressão de estar diante de uma história simple e sem grandes complexidades de enredo. De fato, Riscado segue em narrativa linear e está claramente dividido em três partes: introdução, desenvolvimento e desfecho. A diferença está no modo como o cineasta conduziu o filme, valendo-se de uma estrutura tradicional de narrativa, mas evitando os “gatilhos” comuns de roteiro. “Isso foi de propósito. Não queria que nada tirasse a atenção do caminho da personagem. Eu tentei evitar alguns trunfos do roteiro clássico, mas mantendo uma estrutura de roteiro clássico”, revelou à reportagem do Cineclick.

O longa-metragem realmente foge do lugar-comum. Para o crítico de cinema Heitor Augusto, do Cineclick, “não se trata apenas de exercício formal, mas de criar no espectador um efeito de vida se desenrolando e descortinando continuamente no cinema” (para ler a crítica completa, clique aqui). E esta sensação dá um tom quase documental ao filme. É como se o diretor tivesse apontado sua câmera para a realidade cotidiana da vida de uma pessoa e não a criado ou interferido nesta. O resultado é uma fuga da artificialidade que revela-se o ponto alto do filme. “Foi uma luta muito grande neste filme para eliminar o artifício. Esse tom realista ou naturalista foi muito trabalhado. Meu objetivo sempre foi que coisas genuínas acontecessem em frente da câmera”, afirmou.

Com sua estreia nos cinemas adiada por vezes, a última por conta da seleção para Gramado, Riscado deve chegar aos cinemas brasileiros no início de setembro segundo a assessoria do filme. 


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