terça-feira, 6 de setembro de 2011

Em livro, Burnier conta últimos cinco anos de vida de José Alencar
'Fui testemunha privilegiada', diz jornalista da TV Globo sobre ex-vice.
Livro foi lançado neste domingo (4) durante Bienal do Livro no Rio.

Em "Os últimos passos de um vencedor" (Editora Globo), o jornalista da TV Globo José Roberto Burnier conta como sua relação com o ex-vice-presidente José Alencar se tornou uma amizade e mostra como foram os últimos cinco anos de vida do empresário e político, que morreu em março deste ano após uma luta de mais de 13 anos contra o câncer – veja entrevista com Burnier no vídeo ao lado.

"Vi que tinha um material comigo muito rico, que só eu tinha. Resolvi contar os últimos cinco anos, minha relação com ele, o que eu vi, fui uma testemunha privilegiada desse final dele", disse Burnier.

O livro foi lançado neste domingo (4) durante a Bienal do Livro do Rio, que acontece até o dia 11 de setembro no Riocentro, na Zona Oeste.

A história começou em 2006, quando Alencar, então vice-presidente, descobriu um tipo raro de câncer perto do abdômen, e José Roberto Burnier foi o repórter designado para fazer a cobertura do tratamento, que ocorreria no Hospital Sírio Libanês, em São Paulo.

"Eu já tinha muitos contatos com médicos do Sírio Libanês, e comecei a cobrir, fui conquistando a confiança da família dele, dos assessores dele, dos médicos, conheci mais médicos. (...) Essa relação de confiança começou a se transformar em relação de amizade. Eu sei que, como jornalista, a gente deve evitar ser amigo das nossas fontes, mas, às vezes, é inevitável. Mas eu sabia muito bem separar, e o José Alencar sempre entendeu muito bem isso."


Decisão de escrever o livro
De acordo com Burnier, foi durante uma entrevista concedida a ele por Alencar em 2009 que surgiu a ideia de escrever o livro. A entrevista ocorreu um mês depois de Alencar passar por uma cirurgia que durou 18 horas.

"Fiquei muito tocado com o que ele me disse e fiquei com a minha cabeça pegando fogo. Pensando 'Nossa, alguém precisa escrever essa história. (...) Um dia fui procurá-lo. Falei na lata. (..) Ele ficou surpreso, olhando para mim. E perguntou se eu já tinha escrito algum livro, eu disse que não. Me adiantei e disse 'Não precisa responder agora. Conversa com sua família'. E fui embora, mas saí convicto de que tinha fisgado ele. E ele me deu a resposta três meses depois, todo empolgado: 'Temos muito o que fazer, muita gente para ouvir'."

O jornalista conta que foram cerca de 12 horas de conversa com Alencar divididas em oito encontros em diversos locais, como o quarto no Palácio do Jaburu (residência oficial do vice-presidente) e no Hospital Sírio Libanês, durante uma sessão de quimioterapia. Médicos, familiares e amigos também foram ouvidos.

Os últimos encontros
José Roberto Burnier relata em seu livro um dos último encontros com Alencar, algumas semanas antes da morte do ex-vice-presidente, em São Paulo.


Depois disso, Burnier viu Alencar pela última vez na UTI do Hospital Sírio Libanês, alguns dias antes da morte. O ex-vice-presidente afirmou, na ocasião, que estava pronto para morrer, conta o jornalista.

"A gente era amigo, mas eu fazia perguntas contundentes e ele não se queixava. Eu vi que ele estava com olhos perdidos no espaço e no tempo. Perguntei 'O que o senhor tem pensado nesses últimos momentos', assim mesmo que eu perguntei. Ele olhou e disse 'Você está perguntando se eu estou pensando sobre a morte?'. E eu disse 'É, é isso mesmo'. E ele disse 'Sabe Burnier, eu penho pensado muito sobre a morte e cheguei à conclusão que estou pronto para morrer'. E todo mundo ficou parado com aquela frase. Acho que ele não tinha dito isso ainda."

Notícia da morte

No dia 28 de março, o jornalista recebeu no celular uma mensagem de uma fonte no hospital informando que o ex-vice havia sido novamente internado. Disse que passou a noite monitorando a situação. No outro dia pela manhã, foi à UTI do hospital. "Eu vi no monitor que tem fora do box (quarto da UTI) que a pressão estava cinco por três e eu percebi que estava no fim. Cinco por três é um coração quase parado. Me emocionei muito."

Burnier então foi para a frente do hospital e se juntou aos demais jornalistas. "Eu sentei no lobby do Sírio Libanês e fiquei olhando de longe a confusão. Nunca tinha visto tanta gente em frente ao Sírio. De repente, eu vejo o Kalil [Roberto Kalil, cardiologista] atravessando a porta de entrada, passando como um raio pelo saguão. Ele estava nervoso, ao telefone, não falou nada. Entramos juntos no elevador, ele desligou e falou 'Eu acho que aconteceu, mas não tenho certeza'. A gente subiu junto para a UTI, mas não entrei na última porta. O Kalil entrou e menos de um minuto depois colocou meio corpo para fora e falou 'Faleceu, acabou de falecer'".

O jornalista disse, porém, que nesse momento soube que tinha de cumprir seu papel. "Antes de me emocionar, eu tinha o compromisso de dar a notícia da morte dele, e antes de todo mundo. Afinal de contas, era para aquilo que eu tinha trabalhado tanto. Quando cheguei no ponto do link, veio na cabeça 'Cinco anos em um minuto'. Entrei, dei a notícia. Só depois que a ficha caiu para mim. Uma senhora que estava do lado veio, me deu um abraço e disse 'Sei o quanto deve ter sido difícil para você dar essa notícia'. Aí me emocionei, todo mundo se emocionou."

José Roberto Burnier diz que deu a notícia de improviso, sem escrever nenhum texto. "Eu não preparei e confesso que fiz de propósito porque queria que o comunicado fosse o mais espontâneo possível."

Com prefácio do também jornalista da TV Globo Caco Barcellos, o livro tem cerca de 20 páginas com fotos inéditas de José Alencar no hospital.

Fonte: globo.com

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